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Código: 9786559003280
Categoria: Poesia
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Layla de Guadalupe escreve com faca em seda. Rasga devagar o tecido delicado, costura narrativas de mulheres vivas, junta os fios de cabelo caídos e canta sobre os ossos para formar o corpo, a carne, a pele e os pelos da Cadela.
Não é fácil conciliar o animal com o gesto humano; é preciso se atentar à sua inegociável radicalidade, o nascimento aos vinte e tantos anos, a ideia terrível de não ser boa, sua ética feminista, a febre do ventre vazio, aquele delírio obsceno, sua raiva e seu amor profundo pela vida. É preciso lembrar que é bicho, e sendo vivo é preciso aceitar a morte, e sendo fêmea é preciso aceitar a sorte. Alguma coisa estremece e grita, a prisioneira irrompe furiosa nas páginas desse livro. Ela passeia, insuportável, entre o horror e a delícia de ser corpo-fêmea. A Cadela, antes engravidada e machucada, arranca a coleira, afia suas garras, morde seu dono, prepara sua matilha; elas cheiram o rabo umas das outras.
De alguma forma, as fêmeas de todas as espécies se reconhecem quando se farejam, se identificam nessa memória tão solitária, mas utilizam diferentes técnicas de abortamento. Elas sabem o que querem, e quanto a isso não há nada que possa ser feito. Não é mais necessário sussurrar, o fim do mundo não será adiado.
Ela está no cio e tem fome. Agora é a hora. Avança profética.
Se fêmea nem é gente, é, portanto: cadela.
Larissa Guerrero,
artista visual.
Páginas | 80 |
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Data de publicação | 10/10/2022 |
Formato | 14x19,5 |
Largura | 14 |
Comprimento | 19.5 |
Acabamento | Brochura |
Lombada | 0.7 |
Altura | 0.7 |
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