Num romance inspirado em fatos reais, a jornalista Denise Assis preenche, com talento e criatividade, as lacunas da misteriosa história de uma freira do interior paulista que em 1969 foi presa, torturada, estuprada, e depois banida do país, só retornando dez anos depois, com a anistia. Para o historiador Carlos Fico, que assina o prefácio, “as passagens em que Denise relata a tortura são pungentes. Os ambientes, as práticas, o perfil dos agentes da repressão, sua linguagem, seus hábitos, tudo está ali, com muita fidedignidade”. Ele cita o romancista italiano Alessandro Manzoni (1785-1873), segundo o qual “os romances históricos são verossímeis independentemente de qualquer garantia explícita do autor”. E completa: “O leitor pode estar certo de uma coisa: essa é uma narrativa inteiramente possível. Aliás, muitos episódios impressionantes da história do regime militar brasileiro bem poderiam render livros como este”. Na apresentação, a cientista política Maria Celina d’Araújo ressalta que “a vantagem de ser ficção permite explorar espaços que fazem refletir, de maneira mais livre, sobre as escolhas que fazemos e a força do acaso”.