Ukrayina é uma coletânea de 10 textos que datam, quase todos, do avanço das tropas de Putin rumo a Kiev, no começo de 2022. Como todo livro feito no calor da batalha, acusa sobreposições, adjetivação pesada, enfim, reflete a brutalidade do evento em suas várias dimensões. Alguns dos capítulos estão lavrados na chave mais cara ao autor - a memorialística. De suas muitas viagens ao Leste da Europa, traz o fascínio pela brutalidade das relações interpessoais, pelo peso avassalador do Estado na vida dos cidadãos, pela rudeza do trato no dia a dia, pela resignação a um Estado que vai, pendularmente, do policial ao burocrático - como se ambos fossem uma entidade unívoca, onde o pêndulo parasse estático no meio, premido pelos dois lados. Ukrayina não é um livro para acadêmicos. Seria irresponsável se assim se pretendesse. Ukrayina é um livrinho que registra a quente os ecos da guerra geopolítica de Putin, as repercussões deles nas nossas vidas no Brasil e as reverberações de alguns episódios ligados à guerra aqui. Ukrayina é uma provocação da editora AzuCo ao momento, uma tentativa de compreensão pela imersão - se valendo da pena de um dos escritores da casa. Autor de Qualquer sensação súbita e de O boiadeiro que tentou devolver o Brasil a Portugal, Fernando coordena um pequeno núcleo de literatura de viagem voltado para aproximar as pessoas pelas vias da literatura e da experiência vivida das realidades de um mundo diverso e, sob vários aspectos, tão fascinante quanto ameaçador. Ukrayina é a primeira tentativa nesse sentido. A ele se seguirão em breve outros títulos.